“Espiritualidade significa despertar. A maioria dos seres está adormecida e ignora-o. Nasceram adormecidos. Vivem no seu sono; casam-se no seu sono; concebem os seus descendentes no seu sono; e morrem sem sequer se aperceberem que passaram a vida adormecidos. Eles nunca compreendem o encanto e a beleza desta aventura a que chamamos existência.”
Anthony de Mello
Queridos alunos e amigos ✨💜,
Em FEVEREIRO, os horários mantêm-se, mas o Shala🌿🌸 estará ENCERRADO nos dias 20 e 21/02, segunda-feira (lua nova) e terça-feira de Carnaval.
Por experiência pessoal, sei que nestes dias de ponte/folga/mini-férias (principalmente durante este período de Inverno, em que o cansaço e as dores no corpo se costumam multiplicar…), mesmo quando aparentemente a vontade de ir às aulas é muita, surgem sempre outras prioridades no último instante (nem que seja ficar em casa a descansar ou preguiçar…) e o Shala🌿🌸 acaba quase vazio.
Assim, este ano escolho fechar durante estes dois dias, para que todos possamos descansar!
Já sabem que podem compensar as aulas noutros horários, sempre que vos seja possível fazê-lo. Aproveito igualmente para deixar aqui as minhas desculpas pelo inconveniente, a todos aqueles que se encontram na impossibilidade de compensar aulas…
Vamos a meio caminho de um Inverno mais frio que o habitual e, com tudo o que está a acontecer à nossa volta e dentro de nós (em planos visíveis ou invisíveis…), é muito natural que se sintam cansados, doridos, adoentados. O Inverno é naturalmente um período de introspecção e poucos são os que verdadeiramente respeitam os seu ritmos naturais e os acordam com os da Natureza, o que leva inevitavelmente a uma sensação de falta de energia, de esgotamento físico, psicológico ou emocional…
Perguntam-me muitas vezes o que faço para manter os meus níveis de energia ao longo do ano (sim, eu sei que às vezes transbordo! 😉😂) e, obviamente, essa resposta começa com a prática de Yoga (todos os membros, não só o āsana, se bem que a prática regular das posturas ajuda imenso!!), mas assim que começo a descrever os outros hábitos que são adaptados à minha constituição e me fazem sentir mais enérgica e saudável, a resposta é quase sempre a mesma : “Tu não és normal!”; o que aos meus ouvidos soa sempre como um elogio! 😂
“Não é sinal de saúde estar bem adaptado
a uma sociedade doente.”
Jiddu Krishnamurti
Tirunamalai Krishnamacharya descrevia o Yoga como o processo durante o qual o impossível se torna possível e o possível, ao fim de um longo período de tempo, se torna fácil. Infelizmente, a maioria das vezes, os praticantes não cultivam o suficiente a paciência nem tão pouco a regularidade, características necessárias para aceder de forma segura aos diferentes patamares de evolução física, mental, emocional e espiritual, mas esperam, ainda assim, passar directamente do “impossível” para o “fácil”, como se se tratasse de um truque de magia…
Quando me perguntam como faço para ser plenamente autónoma a nível energético e conseguir manter os meus níveis de energia pessoal quase sempre elevados, eu respondo. Por vezes, há quem ouça as minhas “experiências” e decida viver a sua própria “aventura”. Por vezes, há quem fique feliz por ter experimentado de forma consciente algo que, à partida, parecia impossível. Por vezes, há quem realize, de forma mais ou menos inesperada, a verdadeira arte do Yoga tal como descrita por Krishnamacharya e, pelo caminho, recupere partes de si que nem sequer sabia que estavam perdidas. Por vezes, há quem fique mais Desperto, mais Pleno, mais Consciente, mais Feliz… E a vida muda… Mas o caminho faz-se primeiro do impossível para o possível, que continuamos a praticar durante muito, muito, muito tempo e, eventualmente, o fácil acontece! Mas não acreditem no que vos digo, só porque sou eu que vos digo. Façam a experiência e tirem as vossas próprias conclusões!
“O pensador crítico profundo tornou-se o desajustado do mundo, isto não é uma coincidência. Para manter a ordem e o controlo é preciso isolar o intelectual, o sábio, o filósofo, o erudito, antes que as suas ideias despertem as pessoas.”
Carl Jung
É evidente que o que é benéfico para mim, para além de vos poder parecer “anormal” (se virem aqui um insulto, por favor consultem um dicionário! 😉), extremamente difícil ou mesmo impossível, também pode não ser benéfico para vós. Somos todos diferentes e os nossos corpos (físico, psicológico, emocional, energético e espiritual) não reagirão da mesma forma, aos mesmos estímulos. Isto aplica-se igualmente individualmente, em diferentes momentos da nossa vida. Aquilo que pode ter sido benéfico para nós no passado, pode deixar de o ser no presenteou num momento futuro. Por isso, a menos que me perguntem pessoalmente, de pouco serve falar-vos das minhas escolhas pessoais, no que diz respeito à forma como mantenho o meu “caldeirão energético” cheio, porque o que funciona para mim, não vai obrigatoriamente funcionar para vós. Mas há algo que posso partilhar convosco e que vos será certamente útil (caso sintam que ressoa convosco e escolham acolher o que transmito) para que encontrem o vosso próprio caminho e via para a autonomia energética, independentemente das condições exteriores (que raramente são favoráveis ao nosso bem-estar e qualidade de vida, tendo em conta todas as inversões e distorções nas quais a nossa sociedade está assente)…
“A beleza de uma acção não provém do hábito de a realizar, mas da sensibilidade, da consciência, da clareza da percepção e da precisão da reacção que temos quando a realizamos.” Anthony de Mello
Já me ouviram muitas, muitas, muitas vezes falar (ou escrever) sobre os kleśa (क्लेश), as causas de sofrimento, avidyā (अविद्या), a ignorância metafísica da nossa essência divina, asmitā (अस्मिता), o ego, rāga (राग), o apego, dveṣa (द्वेष), a repulsa e abhiniveśa (अभिनिवेश), a ansiedade existencial gerada pelo medo da morte, raiz de todos os outros medos. Mas já alguma vez se sentaram a meditar sobre a influência de cada uma destas causas de sofrimento no vosso Ser e na vossa Vida, deixando-as vir à superfície para serem observadas a partir de um ponto de neutralidade, identificando a sua origem, sentindo a forma como se manifestam nos vossos diferentes corpos, acolhendo sem julgamentos as emoções que desencadeiam? Já alguma vez olharam plenamente para elas, sem receio do que possa surgir diante dos vossos olhos e do desconforto que isso possa provocar?
“Quando estiver pronto a trocar as suas ilusões pela realidade, quando estiver pronto a trocar os seus sonhos pelos factos, então encontrará a iluminação.
É nessa altura que a vida finalmente fará sentido. É nessa altura que a vida se tornará bela.” Anthony de Mello
Se vos perguntar se conhecem os vossos medos, se os conseguem identificar de forma precisa (mesmo que não consigam ter ainda domínio sobre eles), se conseguem perceber os seus mecanismos e gatilhos que os desencadeiam, assim como qual é a melhor forma de encontrar a vossa neutralidade quando se apresentam, sabem responder-me?
Se vos perguntar se sabem reconhecer os vossos apegos e repulsas, se estão verdadeiramente conscientes de que cada um deles representa uma “face da mesma moeda” e que, por essa razão, ambos vos limitam e vos escravizam da mesma forma, o que me dirão?
Se vos perguntar se são capazes de ver o vosso ego na sua totalidade e a ilusão (māyā माया) na qual vos prende, não só quando manifesta as suas características negativas, que são facilmente identificáveis, mas também e principalmente quando vos faz acreditar que não estão sob a sua influência, se as vossas acções forem “nobres e virtuosas”, se estiverem a agir por uma “boa causa”, qual será a vossa resposta?
“A coisa mais difícil no mundo é ouvir, é ver. Nós não queremos ver. Recusamo-nos a olhar, porque ver pode obrigar-nos talvez a mudar. Nós não queremos olhar.” Anthony de Mello
Lembram-se quando referi mais acima que a maioria dos praticantes de Yoga quer passar directamente do “impossível” para o “fácil”, como se se tratasse de um truque de magia? Pois… É isto… Como podemos querer eliminar avidyā, retirar os véus da ignorância, reconhecer a nossa Verdadeira Essência Divina, sem primeiro identificarmos e nos libertarmos dos medos, dos apegos e repulsas, sem primeiro desconstruir e desactivar toda a estrutura inorgânica do ego? De que forma estes questionamentos e meditações permitem ajudar a manter tão pleno quanto possível o nosso “caldeirão energético”? Existem inúmeras razões pelas quais a nossa energia vital se esgota, algumas são de tal forma complexas, que é difícil explicá-las em poucas palavras… Mas uma grande parte dessas razões, encontra as suas raízes nos kleśa e na influência que exercem sobre nós ao quotidiano. Quanto maior a nossa identificação com os medos, os apegos e repulsas e o ego, maior a nossa ignorância e, consequentemente, maior a nossa “luta”, maior a dor, maior o sofrimento, maior o desgaste de energia, maior o cansaço e, em casos extremos, maior o desespero e vontade de “desistir” (seja do que for, mas principalmente daquilo que alimenta a nossa Alma e nos traz de volta à Vida e à nossa Essência Divina)… Eu só tenho a possibilidade de “trabalhar” sobre aquilo que consigo identificar, reconhecer… Eu só tenho a possibilidade de aceder ao Conhecimento, se verdadeiramente o realizar e encarnar, em cada uma das minhas células…
“As forças naturais que se encontram dentro de nós são as que realmente curam nossas doenças.” Hipócrates
Assim, antes de procurarem o “fácil” num qualquer texto sagrado, mantra, feed Instagram ou canal YouTube, porque não experimentam sentar numa posição confortável, recolher os sentidos em pratyāhāra (प्रत्याहार), encontrar o centro e a concentração em dhāraṇā (धारणा) e entrar em estado de dhyāna(ध्यान), meditando sobre Quem Realmente São e de que forma podem libertar-se de tudo aquilo que não são. Depois, é apenas uma questão de Tapas (तपस्), a disciplina pessoal ou esforço sobre si mesmo, que se manifestará de diferentes formas em cada um de vós.
“O mundo está cheio de coisas mágicas, pacientemente à espera que os nossos sentidos se tornem mais apurados.” W.B. Yeats
No meu caso, é esta prática de tapas sobre os kleśa que faz de mim uma pessoa “anormal” e, ao mesmo tempo, que me dá Força,Energia e Coragem para enfrentar os desafios do quotidiano e da própria prática de Yoga, quando confrontada ao cansaço ou à dor, para me manter ao Serviço dos Outros, do Bem Comum e do Plano Divino para a Libertação da Consciência (mokṣa मोक्ष), mas sem cair nas armadilhas do ego, que levam ao sacrifício e ao desgaste pessoal, fazendo-nos acreditar que somos essenciais ou indispensáveis também para o processo de evolução daqueles que nos são próximos ou que nos rodeiam e que colocam sobre nós a responsabilidade do seu próprio karma. O processo de Ascensão e de Libertação da Consciência é possível para TODOS, mas cada um de nós percorre apenas o seu caminho único e sim, muitas vezes solitário…
“Se quiser ficar cheio, deixe-se esvaziar. Se quer renascer, deixe-se morrer. Se quer que lhe seja dado tudo, renuncie a tudo.” Lao-Tzu
É fácil, o que vos proponho? Não, não é! (nunca é, não é verdade? por isso vos digo tantas vezes que se estiver muito fácil, desconfiem…) É confortável? Também não… É indispensável para o vosso caminho espiritual? Não sei… Só vocês podem saber o que estão dispostos a investir na vossa evolução espiritual, que importância tem na vossa vida o Conhecimento de Si mesmo e qual é o vosso chamamento interno para encontrar e realizar a União (yoga योग) com o Divino dentro do vosso Coração… Pode transformar-vos em pessoas “anormais”? Sem dúvida! Até um certo ponto, mas nunca se esqueçam que os paradigmas mudam e o mundo está em plena evolução, transformação, bifurcação…
“Aquele que salta para o vazio não deve nenhuma explicação àqueles que permanecem parados e observam.” Jean-Luc Godard
Agora o que sei e que posso confirmar, porque é algo que realizei e integrei dentro do meu Coração e encarno plenamente em cada instante da minha Vida, é que, se esse for o apelo da nossa Alma, se for esse o caminho a seguir, por cada lágrima ou gota de suor vertidas na prática de tapas, a Força da Alma alcançada pela ascese, pela disciplina pessoal, pelo esforço sobre si mesmo, expande-se e dá frutos, que se manifestam sob a forma de saṃtoṣa (संतोष), o Contentamento (ainda se lembram dos niyama, não lembram?)! Fazemos o nosso melhor, o resto entregamos a Deus (Īśvarapraṇidhāna ईश्वरप्रणिधान). Para que possamos então, e finalmente, lembrarmo-nos que a nossa Verdadeira Natureza e Essência é Sat-Chit-Ānanda(सच्चिदानन्द), Existência, Consciência E Felicidade!
“As pessoas mundanas buscam as dádivas de Deus. Os sábios buscam o próprio doador.” Paramahansa Yogananda
Em FEVEREIRO, desejo sinceramente que cada um de vós possa encontrar o Discernimento (viveka विवेक) necessário para que possam escutar a voz do vosso Coração e sentir qual o caminho mais indicado para que mantenham a preservação da vossa energia vital e a vossa autonomia energética, mantendo-se igualmente afastados do espírito de sacrifício e dos abusos provocados pela vontade pessoal (em oposição à Vontade Divina), sobre vós mesmos ou sobre os outros. Autorizem-se a amar-se, tanto quanto amam os outros. Autorizem-se a cuidar de vós mesmos, tanto quanto cuidam dos outros. Aprendam a escutar o vosso corpo, libertem-se das limitações da mente e autorizem-se a viver em Harmonia com a Natureza e os Elementos, afinal é isso mesmo que nos constitui. No final, será sempre no Caminho do Meio, que encontrarão a maestria e o equilíbrio…
Como sempre, deixo-vos a minha mais profunda e sincera GRATIDÃO pela vossa leitura e atenção e peço-vos que, como de costume, acolham apenas o que ressoa convosco e coloquem de parte tudo o resto!! Com todo o meu AMOR e REVERÊNCIA, desejo-vos um excelente mês de Fevereiro, com coragem, bons questionamentos e boas práticas… Dentro e fora do tapete! Para que um dia, possamos ver no mundo, a mudança que ocorre em nós através do Yoga!
Namaste 🙏💜✨ Rita
ॐ लोकाः समस्ताः सुखिनो भवन्तु
ॐ शान्तिः शान्तिः शान्तिः॥
Om lokā samastā sukhino bhavantu
Om śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ
Om
Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.
Que haja Paz, Paz, Paz.
Comments