“É fácil estar calmo e sereno quando tudo está a correr bem e as pessoas e as circunstâncias são agradáveis; é quando são exatamente o oposto que a plenitude da calma, da paz e da igualdade é testada, fortalecida e aperfeiçoada.”
Sri Aurobindo
Queridos alunos e amigos ✨,
Durante o mês de AGOSTO, por questões de preservação e conservação de energia, o Shala🪷🍃 estará ABERTO apenas às segundas-feiras e quintas-feiras, de manhã e à tarde, nos horários habituais.
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Na quinta-feira, 15/08, por ser feriado, haverá apenas aula de MANHÃ, entre as 7h00 e as 9h00.
ॐ
Mais uma vez, relembro que, apesar da redução de horários em AGOSTO, o Shala🪷🍃 está sempre disponível em qualquer dia e qualquer hora, para os alunos que aí queiram fazer a sua auto-prática, como tem acontecido até agora, a menos que seja necessário efectuar algum tipo de manutenção no espaço (como é o caso este fim de semana).
🍃🪷🧘♀️💜🧘♂️🪷🍃
“Nenhum de nós está aqui para «fazer o que nos apetece» ou para criar um mundo em que possamos finalmente agir apenas como temos vontade; estamos aqui para fazer o que o Divino quer e para criar um mundo em que a Vontade Divina possa finalmente manifestar a sua verdade sem ser distorcida pela ignorância humana ou pervertida pelo desejo vital.”
Sri Aurobindo
Para quem está familiarizado com a prática de Ashtanga Vinyasa Yoga, sabe que o “sucesso” da nossa prática de āsana (आसन - postura) reside na repetição e na regularidade. Dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano, desenrolamos o nosso tapete e subimos para cima dele, para repetir, uma e outra vez, os mesmos movimentos, as mesmas posturas, as mesmas respirações, os mesmos vinyāsa (विन्यास - coordenação do movimento com a respiração), os mesmos rituais. Cada intenção, cada gesto, cada respiração executados com o máximo de sinceridade, de humildade, de paciência, de resiliência, de dedicação e de concentração…
Mas tudo isto, toda esta prática física e espiritual, esta filosofia, esta via, este caminho, só fazem sentido se soubermos verdadeiramente porque razão o fazemos e se tivermos a Coragem e a Determinação de lançar a nossa âncora e assentar as nossas fundações nos princípios éticos e de disciplina pessoal que representam os Yama/Niyama. Senão, rapidamente e facilmente podemos ser desviados, perder a nossa bússola, a nossa direção e o alinhamento à Verdade Suprema (ऋत ṛta - Lei Divina), à Vontade Divina e à Ordem Cósmica (धर्म - Dharma) que, de acordo com as aspirações da nossa Alma, nos guiam de “regresso a casa”, permitindo a União (योग - yoga) com o Divino dentro do nosso Coração e a realização da nossa Verdadeira Essência de Sat-Chit-Ānanda (सच्चिदानन्द), Existência, Consciência, Felicidade. Só assim podemos encarnar a mudança que queremos ver manifestada no mundo…
“Ser sincero significa elevar cada movimento do nosso ser ao nível da consciência e da realização mais elevadas que já alcançámos.
A sinceridade exige a unificação e a harmonização de todo o ser, em todas as suas partes e em todos os seus movimentos, em torno da vontade divina central.”
Sri Aurobindo
Sem estes princípios éticos (यम - yama) e estas regras de disciplina pessoal (नियम - niyama), e a nossa intenção clara de praticá-los com a mesma dedicação e intensidade que acordamos à prática de āsana (dentro das nossas próprias capacidades), o Yoga despe-se da sua essência espiritual e transforma-se em mais um produto da sociedade de consumo, empurrando cada vez mais para a superfície e para o exterior e reforçando o ego espiritual de todo e qualquer praticante que se deixe seduzir pela simples compreensão mental do Yoga, da sua filosofia ou da sua prática. A compreensão do que é realmente o Yoga e qual o seu objectivo (मोक्ष - mokṣa, a Libertação), assim como a compreensão e integração de qualquer um dos seus oito membros (aṣṭāṅgayoga), não acontece na esfera mental. O Conhecimento do Yoga, do seu objectivo e, consequentemente, o Conhecimento de Si Mesmo através do Yoga, só podem acontecer plenamente através da experiência e da prática.
“O conhecimento parcial é algo poderoso que pode ser um imenso obstáculo na vinda à superfície da autêntica Verdade.”
Sri Aurobindo
Por isso repetimos uma e outra vez, cada intenção, cada gesto, cada respiração. Por isso os executamos com o máximo de sinceridade, de humildade, de paciência, de resiliência, de dedicação, de concentração… Porque apenas além das limitações da nossa compreensão mental, através da experiência podemos encontrar a realização e a plenitude do Verdadeiro Conhecimento, completamente integrado em cada uma das nossas células. E assim, o Yoga deixa finalmente de ser algo que “fazemos”, para passar a ser a manifestação de Quem Somos… Seres plenos, soberanos e livres, ao Serviço da Vontade Divina!
“Não fazemos o nosso yoga para nós próprios, mas para o Divino. Não é a nossa expressão pessoal que devemos procurar, a manifestação do ego individual liberto de todos os obstáculos e amarras, mas sim a manifestação do Divino.”
Sri Aurobindo
Visto de fora, pode parecer que estamos sempre a fazer a mesma coisa… A sensação não desaparece quando nos posicionamos “deste lado”, pois enquanto professora, também pode parecer que estou sempre a dizer a mesma coisa, a repetir os mesmos ensinamentos, a “bater na mesma tecla” e às vezes tenho a certeza que é um cansaço, tanto para o aluno como para o professor… Mas nada poderia ser mais inexacto. A pessoa que somos hoje, não é a mesma que fomos ontem e não é certamente a mesma que seremos amanhã. Por isso, nunca nada é igual, nunca nada é permanente e é importante aprender a lidar da melhor forma possível com essa impermanência, com essa constante e inevitável mudança (quer ela pareça desejável ou indesejável aos nossos olhos!). Com humildade, sinceridade, paciência. Voluntariamente e sem apegos, de preferência… Porque de uma forma ou de outra, o Universo encontrará sempre formas mais ou menos criativas de nos guiar para a Expressão Mais Elevada da nossa Alma e quanto mais resistimos, mais sofremos…
“Deveria ser possível para vós ver, sem ficarem perturbados ou deprimidos, as coisas que precisam de ser mudadas em vós; a mudança seria assim mais fácil.”
Sri Aurobindo
Quando tudo parece cada vez mais difícil, que o mundo à nossa volta parece desabar ou perder o sentido, quando os obstáculos são enormes ou se acumulam e começamos a duvidar das nossas próprias capacidades para ultrapassar tudo isso e continuar a avançar neste caminho que efectivamente exige Coragem e Disciplina, não devemos hesitar em regressar às bases e, através do auto-questionamento, verificar uma e outra vez a nossa compreensão, prática e integração das fundações do Aṣṭāṅgayoga, os Princípios Éticos e de Disciplina Pessoal que constituem os Yama/Niyama. Porque o Yoga não é diferente da Vida…
“Qualquer pessoa que não tenha a coragem de enfrentar a vida e as suas dificuldades com paciência e firmeza nunca será capaz de ultrapassar as muito maiores dificuldades interiores da sādhanā. A primeira lição do nosso Yoga é enfrentar a vida e as suas provações com uma mente calma, uma coragem firme e uma confiança total na Shakti Divina.”
Sri Aurobindo
Este mês, por questões de conservação e preservação da minha própria energia pessoal, opto por não procurar novas formas de vos falar destas indispensáveis fundações não só da filosofia e da prática do Yoga, como do próprio espaço físico e multidimensional que é o Padma Yoga Shala🪷🍃 (como manifesto aqui) ou mesmo da forma como ensino e transmito os ensinamentos do Yoga, através da minha própria experiência pessoal.
Assim, em vez de repetir mais uma vez aquilo que já me ouviram dizer tantas outras, prefiro humildemente remeter-vos para as sábias palavras de Sri Aurobindo (cuja Sabedoria e Realização da Consciência Divina e humana ultrapassam largamente a minha e têm sido uma inspiração, assim como um grande apoio espiritual nestes últimos tempos…), escritas em resposta a um dos seus discípulos debatendo-se com a questão da “perfeição”. Porque o mundo à nossa volta não é fácil e muito menos perfeito. Porque nós tampouco somos perfeitos, mesmo se todos fazemos o melhor que podemos, com as ferramentas que temos. Porque todos somos confrontados com situações inesperadas e por vezes violentas, que nos trazem sofrimento (दुःख - duḥkha). Porque até atingirmos a Libertação, todos estamos submetidos à influência dos kleśa (क्लेश - causas de sofrimento) e em maior ou menor grau, todos sofremos por causa da miséria existencial que nos causa o medo da morte, raiz de todos os outros medos (अभिनिवेश - abhiniveśa), do apego (राग - rāga), da repulsa (द्वेष - dveṣa), do ego (अस्मिता - asmitā) e acima de tudo, da ignorância (अविद्या - avidyā). Porque, por vezes, o nosso ego faz-nos acreditar que estamos estagnados ou mesmo a regredir e anseia por novidades que nos tragam aquela tão desejada sensação de gratificação instantânea, esperando que ela possa apaziguar a nossa impaciência (o que nunca acontece…). Outras vezes, é o nosso ego espiritual que nos faz acreditar que “já chegámos”, criando ou alimentando assim inúmeros ângulos mortos ou empurrando-nos para a negação daquilo que realmente é. Mas também porque apesar de todos os seres humanos estarem submetidos à ilusão (माया - māyā), para aqueles que escolheram o Yoga como caminho de Libertação (ou foram escolhidos por ele…), não há nada mais importante que a Verdade (सत्य - satya). A Verdade sobre nós mesmos, sobre os outros, sobre o mundo que nos rodeia, muito além do alcance limitado dos nossos cinco sentidos, pois :
“Na consciência yóguica, discernimos não apenas as coisas, mas as forças; não apenas as forças, mas o ser consciente por trás das forças. Tornamo-nos conscientes de tudo isto, não apenas em nós próprios, mas no universo. (…) Olhem para tudo o que está e tem estado a acontecer na história humana - o olho do Yogin vê não só os acontecimentos exteriores, as pessoas e as causas, mas as forças enormes que os precipitam em ação.
Se os homens que lutaram foram instrumentos nas mãos de governantes e banqueiros, estes, por sua vez, foram meros fantoches nas garras dessas forças ocultas.
Quando se está habituado a ver o que está por detrás, já não se está propenso a ser tocado pelos aspectos exteriores - ou a esperar qualquer remédio das mudanças políticas, institucionais ou sociais; a única saída é através da descida de uma consciência que não é o fantoche dessas forças, mas é maior do que elas.”
Sri Aurobindo
Relembro que o mais importante não é aquilo que transmito ou a forma como o faço (neste caso, diretamente a partir dos ensinamentos de Sri Aurobindo) mas sim aquilo que estão dispostos e prontos para acolher e integrar, de acordo com a ressonância dentro do vosso Coração e peço-vos que, como de costume, escutem a vossa intuição, acolham apenas aquilo que ressoa para vós e coloquem de parte ou descartem tudo o resto.
“A presença de imperfeições, e mesmo de numerosas e sérias imperfeições, não pode constituir um impedimento permanente ao yoga. Não estou a falar da recuperação da abertura anterior, pois segundo a minha experiência, o que vem depois de um período de obstrução ou de luta, é geralmente uma abertura nova e bem mais vasta, uma consciência mais alargada e uma evolução em relação ao que tinha sido conquistado anteriormente e que na altura parecia perdido - mas que não o estava senão em aparência. O único impedimento que pode ser permanente - mas que não o é necessariamente, pois também isso pode mudar - é a insinceridade, e ela não está presente em si.
Se a imperfeição fosse um impedimento, nenhum homem poderia ter sucesso no yoga, pois todos são imperfeitos. E segundo aquilo que tenho testemunhado, tenho quase a certeza que aqueles que têm maior capacidade para o yoga, também são ou foram, na maior parte das vezes, os portadores das maiores imperfeições.
Suponho que conheça o comentário de Sócrates sobre a sua própria natureza. Inúmeros grandes yogins poderiam afirmar o mesmo sobre a sua própria natureza humana inicial. No yoga, a única coisa que finalmente importa é a sinceridade, e juntamente com ela, a paciência para perseverar no caminho. Muitos, mesmo sem esta paciência, vão até ao fim, pois apesar da revolta, da impaciência, da depressão, do desânimo, do cansaço, da perda temporária da fé, é uma força maior que o seu ser exterior, a força do espírito, o ímpeto da necessidade da alma, que os empurra através das nuvens e dos nevoeiros, em direção ao objetivo a que se propuseram. As imperfeições podem ser obstáculos que causam difíceis quedas momentâneas, mas sem obstruir o caminho de forma permanente. A escuridão resultante das resistências da natureza pode causar sérios atrasos, mas eles tampouco duram para sempre.
A duração do seu período de obscuridade também não é uma razão suficiente para que perca a fé na sua capacidade ou no seu destino espiritual. Creio que alternâncias entre períodos obscuros e luminosos refletem uma experiência comum entre os yogins e as excepções são muito raras. Se procurarmos as razões deste fenómeno, tão desagradável para a nossa natureza humana impaciente, penso que encontraremos duas principais. A primeira é que a consciência humana, ou não pode suportar uma descida constante de luz, de poder e de ānanda, ou então não pode simultaneamente recebê-la e absorvê-la; são necessários períodos de assimilação. Mas esta assimilação continua por detrás do véu da consciência de superfície; a experiência ou a realização que desceram, retiram-se para além do véu e deixam esta consciência exterior, ou de superfície, em repouso para que possa novamente preparar-se para uma futura descida de luz. Nas etapas mais avançadas do yoga, estas fases de escuridão ou de monotonia, tornam-se mais curtas, menos enfadonhas, e são também aliviadas pelo reconhecimento de uma maior consciência que, embora não actue para um progresso imediato, permanece e apoia a natureza externa.
A segunda causa é uma resistência, qualquer coisa na natureza humana que não sentiu a descida anterior, que não está pronto e que, provavelmente, não quer mudar, e assim, abertamente ou secretamente, cria o obstáculo. Muitas vezes, é uma formação forte de um hábito mental ou vital, ou então uma inércia momentânea da consciência física, mas não exactamente uma parte da natureza. Se conseguirmos discernir em nós mesmos a causa, reconhecê-la, ver o seu funcionamento e fazer apelo ao poder que a fará desaparecer, os períodos de escuridão podem ser consideravelmente reduzidos e a sua intensidade diminui. Mas em todos os casos, o poder divino continua a actuar por trás e, um dia, talvez quando menos esperamos, o obstáculo desaparece, as nuvens dispersam-se e, de novo, a luz regressa e o sol brilha. A melhor atitude a ter, se nos for possível, é não nos irritarmos, não nos desencorajarmos, mas sim continuar a perseverar calmamente, mantendo-nos bem abertos à luz, esperando com fé a sua chegada. Pude verificar que isso reduz a duração do período em que somos testados e sofremos. Em seguida, quando o obstáculo finalmente desaparece, apercebemo-nos que realizámos um imenso progresso e que a consciência se encontra muito mais capaz de receber e de reter. Há uma compensação para todas as provações e tribulações da vida espiritual.”
Sri Aurobindo, in “Le Guide du Yoga”
Éd. Albin Michel, Paris, 2007, pp. 69-71
(tradução livre)
Oração de Quem Ama a Verdade
(para quem não se sente à vontade com o inglês, é possível traduzir as legendas para português, a partir das preferências, no canto inferior direito do vídeo, directamente no Youtube)
Como sempre, deixo-vos a minha mais profunda e sincera GRATIDÃO pela vossa leitura e atenção e peço-vos que, como de costume, acolham apenas o que ressoa convosco e coloquem de parte tudo o resto, já que tudo o que partilho convosco é apenas o fruto dos meus próprios questionamentos, experiências de vida, compreensões e integrações alcançadas através dos ensinamentos do Yoga, da minha própria prática espiritual e do meu sādhana (साधन). Com todo o meu AMOR e REVERÊNCIA, desejo-vos coragem, bons questionamentos e boas práticas… Dentro e fora do tapete! Para que um dia, possamos ver no mundo, a mudança que ocorre em nós através do Yoga!
Namaste
🙏💜✨
Rita
ॐ लोकाः समस्ताः सुखिनो भवन्तु
ॐ शान्तिः शान्तिः शान्तिः॥
Oṁ lokā samastā sukhino bhavantu
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ
Oṁ
Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.
Que haja Paz, Paz, Paz.
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